domingo, 6 de janeiro de 2013

O Dia de Jon

Jon era um garoto estranho. Não gostava de pessoas, tinha medo delas na verdade.
Todos os dias Jon ia para a escola, no período da manhã. Não tinha nenhum amigo lá.
Os alunos sempre se afastavam dele, como se ele fosse algo assustador, mas era apenas um menino.
Ele era um menino que não gostava de coisas normais, ao invés de ir jogar futebol ou andar de bicicleta, Jon preferia ir ao cemitério da cidade. lá era tão calmo, não tinha ninguém para rir dele, ele adorava ficar ali olhando as lápides e as fotos de pessoas que jamais conhecera.
Os pais de Jon quase  nunca notavam sua presença, a menos que fosse para lhe dar algum sermão, e ele sempre ouvia calado, não era muito de conversar.
Era o mês de fevereiro, as aulas tinham começado a pouco tempo e Jon já se sentia novamente um peixe fora d'água. Por que ele tinha que estar ali? Ele nem gostava daquela gente.
Os garotos mais velhos, da turma de basquete, sempre provocavam, xingavam e as vezes batiam nele, mas ele sempre aguentava calado.
Foi em uma quinta-feira, o time de basquete da escola mais uma vez foi derrotado pelo grande time da universidade local.
Jon viu seis ou sete meninos indo em sua direção no refeitório, já sabia o que significava. Tentou correr, mas eles eram rápidos e nem deram a ele uma chance.
  Você gosta de ver quando perdemos? Gosta de rir da gente, é isso? Eles gritavam tão perto da orelha de Jon que pareciam estar dentro de sua cabeça.
Eles o arrastaram para fora da escola, todos viram, ninguém fez nada. Jon apenas fechou os olhos e esperou que tudo começasse de novo. O som dos socos e dos chutes que ele levava ecoavam pelo pátio silencioso, A dor era lancinante, o gosto de sangue na boca era o que lhe dizia que estava consciente.
O sol estava se pondo, e Jon estava amarrado a uma placa nos fundos da escola, coberto por seu próprio sangue, e como sempre, sozinho.Seus olhos doíam, sua cabeça latejava.
Depois de algum tempo ele conseguiu sair de seu cárcere e rumou para casa, não ia passar no cemitério hoje, precisa descansar e tratar os ferimentos.
Jon passava pela ponte que ligava os dois lados da cidade. Olhando pra baixo ele calculou entre 20 e 25 metros, altura suficiente para uma morte certa. Agora ele esta sentado na grade de proteção da ponte, seus pés balançavam ao vento gelado e poluído da capital, lágrimas e sangue escorriam do seu rosto, não sentia mais dor, o corpo estava mole, como se estivesse anestesiado. Ele tentou imaginar o mundo sem ele,não teria grande diferença, as pessoas que passavam na ponte nem viam um garoto sentado ali, naquele lugar perigoso. Já estava decidido, apenas ia tomar o ultimo folego...
Foi então que veio uma duvida, por que ele teria que pagar? Ele nunca fez nada para merecer isso, ele nunca provocou ou humilhou alguem, nunca bateu em alguem, nunca desrespeitou seus pais...
Como um flash os rostos de seus agressores, daqueles que não ajudaram, de seus professores, de seus pais, um a um foram passando pela sua mente, seu corpo foi envolto em um calor que ele nunca sentira antes, era ódio.
Jon se levantou, enxugou as lágrimas e foi pra casa. Não tinha ninguém quando chegou, apenas um bilhete escrito "fomos jantar fora, prepare alguma coisa". Ele não tinha fome então foi para o chuveiro.
Ao entrar embaixo da agua fria o piso branco se coloriu com seu sangue, o corpo voltou a doer, mas ele já não se importava. Desligou o chuveiro, se vestiu e foi para a cama.
O relógio despertou as seis horas como de costume e antes de se levantar Jon pensou em tudo que ocorrera no dia anterior e apenas uma cisa ficava gravada em sua mente:
"Hoje é meu dia!"
Escovou os dentes, se vestiu com o uniforme da escola e foi tomar o café. Sua mãe estava sentada a mesa lendo o jornal e seu pai estava em pé olhando pela janela o carro novo do visinho.
— Mãe, eu gosto de você, não queria que as cosas chegassem a esse ponto. — Disse Jon olhando bem os olhos de sua mãe.
— Você esta mesmo ficando louco não é? Que conversa é essa? Você nunca diz nada, quando vai dizer é uma idiotice dessas, você é mesmo um inútil, termina logo esse café e vai pra escola, pelo menos lá você não me incomoda, e lava aquela roup... — A mãe de Jon não pode terminar a frase, a faca de churrasco que estava na mesa já estava atravessando sua garganta, seus olhos viram o filho pela ultima vez antes de perder o brilho.
— O que você fez? — O pai de Jon tentou chegar até a esposa mas foi surpreendido por um golpe na cabeça e caiu como uma pedra.
— Eu gostava de você também, mesmo eu não sendo bom em esportes eu tinha outras habilidades. — O olhar de Jon ao dizer essas palavras era como o de um leão ao perseguir sua presa, fixo e penetrante.
Jon arrancou a faca do pescoço de sua mãe e empurrou o corpo sem vida em direção ao pai.
— Espero que continuem juntos depois disso.
 Jon enfiou a faca lentamente no peito do pai, com um estranho sorriso, ele estava sentindo a dor que seu pai sentia, era como se isso o alimentasse. O sangue do casal espalhava pela cozinha enquanto Jon terminava o café. Olhou para o relógio, estava atrasado, retirou a faca do corpo de seu pai, limpou, guardou em sua bolsa e foi para a escola.
Estava andando tão rápido que nem notou que já estava em frente ao portão. Entrou. As pessoas encaravam, outros riam das marcas em seus rostos. Mais adiante estava o grupo que o espancou no dia anterior. 
Eles perceberam que Jon estava caminhando em direção a eles e foram de encontro.
— E ai estranho, quer mais uma dose? — Disse o mais alto, aquele que amarrou Jon na placa. — Se quiser é só fa... — Interrompido pela faca de Jon em sua barriga, o rapaz foi em direção ao chão.
Os outros ficaram sem reação, um deles, Marc, tentou fugir, mas Jon deu uma facada em seu joelho, o garoto gritava e se contorcia, todos os outros alunos vieram correndo ver o que aconteceu.
Jon pisou na garganta de Marc e sentiu seu pescoço quebrar.
Seguiu em direção Josh, esse nem teve tempo para falar, Jon cortou sua garganta com um movimento muito rápido e percebeu que Tomas estava tentando se aproximar pelas suas costas, se esquivou agilmente do soco e enfiou a faca na áxila de Tomas e em seguida em suas costas. O corpo do rapaz caiu no chão já sem vida. Os outros dois, os gêmeos Dan e Doug vieram com bastões de beisebol, mas estavam tremendo demais para acertar Jon.
Dan foi o primeiro, recebeu um golpe na perna e caiu de joelho, deixando o peito livre para a longa e agora escarlate faca de Jon entrar três vezes.
Doug deixou o bastão cair, se afastando lentamente e ainda tentando entender a situação, ele tremia e chorava. mesmo com todo o medo que sentia ele foi para cima de Jon, que não sentia nada, nem medo e nem compaixão, apenas ódio. Antes que Doug se aproximasse, Jon lambeu o sangue da ponta da faca, se sentiu muito mais vivo, nada importava mais, só o sangue que preenchia todo o piso da entrada da escola.
Jon sentiu o soco de Doug no seu rosto, mas não foi dor, não teve impacto. A faca ia em direção os olhos de Doug quando ele se esquivou e segurou a mão de Jon.
— Você é louco, olha o que você fez com meu irmão e os outros, o que você quer? — Doug tremia muito, mas ainda assim conseguiu segurar Jon.
— Louco? Vocês é que são loucos, machucam as pessoas e depois não conseguem aguentar as consequencias. Eu não sou louco, eu sou o único são aqui. Olhe bem para o seu irmão, você viu o olhar dele? Parecia com algum que você tenha visto?
Doug se lembrou na hora, era o mesmo olhar de Jon quando levava  em silencio golpes no rosto. 
— Me desculpe. — Doug soltou a mão de Jon e sentiu a faca entrando lentamente em seu corpo, ele teve tempo de olha para Jon mais uma vez, o garoto que ele julgava estranho, que ele se divertia fazendo sofrer agora estava sorrindo friamente diante do seu sofrimento.
Doug agonizou alguns minutos antes de perder a vida.
Jon deixou a faca e pegou um dos bastões que estava no chão e entrou na sala de aula. Ele procurava Tomy, o ultimo do time de basquete, aquele que sempre que ficava irritado torturava Jon.
Ele estava na sala dois, encolhido como um rato em meio a um pequeno grupo de alunos que sobrou.
— Olha só pra você, tão forte, tão valente e com medo de mim. Irônico, não? Saiam daqui todos vocês! — Os alunos correram gritando, a maioria meninas, chorando.
Jon acertou a cabeça de Tomy com  bastão.
— Sinta o que eu senti seu maldito, seu desgraçado, seu merda, é isso que você é, eu sou o campeão, hoje é o meu dia! — Jon gritava enquanto batia na cabeça de Tomy com o bastão de beisebol, mesmo percebendo que ele já não tinha vida ele não parou de bater. 
Jon ouviu um som, um estalo bem alto, sentiu seu corpo perder as forças, sentiu o sangue na boca novamente. Um policial havia entrado na escola, ele deu três disparos certeiros em Jon que caiu de costas. Ele olhava o corpo de Tomy ainda sentia ódio, ainda queria bater no que sobrou de seu rosto, mas não tinha mais forças. Então ele fechou os olhos, um pensamento veio em sua mente:
"Estou livre, finalmente vou poder aproveitar aquele silencio, longe de todos."
Jon estava morto, assim como seus pais e os 6 membros do time de basquete.

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